Saiba tudo sobre a Artrose do Joelho

Artrose do joelho

A artrose é a principal doença musculoesquelética no mundo. Cerca de 10% dos homens e 18% das mulheres acima dos 60 anos sofrem de artrose do joelho. Acima dos 80 anos, esses números sobem para 22% e 55% respectivamente.

O que é a Artrose?

A artrose, também conhecida como osteoartrose ou osteoartrite, é uma doença degenerativa caracterizada pelo desgaste progressivo das cartilagens que protegem os ossos dentro das articulações.

A cartilagem é um tecido composto principalmente por água e colágeno. Ela tem as funções de amortecimento das cargas entre os ossos, diminuição do atrito, facilitando o “deslizamento” entre os ossos durante o movimento, dentre outros.

Para se ter uma ideia de como é lisa a cartilagem, seu coeficiente de atrito é menor do que o do gelo. Ou seja, as cartilagens de uma articulação deslizam entre si mais facilmente do que dois cubos de gelo um contra o outro.

O que causa a Artrose do Joelho?

A artrose sempre vai se iniciar devido a algum tipo lesão na cartilagem. Mas as lesões podem ser de diferentes causas. Isso leva à diferenciação de dois tipos de artrose: a artrose primária (mais comum) e a artrose secundária.

Na artrose primária, a lesão da cartilagem ocorre de forma progressiva ao longo da vida, por uma associação de fatores como:

  • Mau alinhamento dos membros (joelho varo ou valgo);
  • Obesidade;
  • Prática repetitiva de atividades de alto impacto sobre a articulação (saltos, corridas, artes marciais).

Já na artrose secundária, existe uma doença de base ou um fator desencadeante claro que gerou a lesão, como:

  • Um trauma agudo;
  • Doenças reumatológicas inflamatórias (artrite reumatoide, lupus, psoríase);
  • Doenças endócrinas (diabetes);
  • Deformidades congênitas.

A cartilagem, por si só, já é um tecido com baixíssima capacidade de regeneração quando lesada. Com o avançar da idade, essa capacidade se torna ainda menor. É por esse motivo que geralmente a artrose vai apresentar seus sintomas a partir dos 60 anos, aproximadamente.

Cartilagem
Diferença entre a cartilagem de um joelho normal (esquerda) e um joelho com artrose (direita)

Quais os sintomas da Artrose do Joelho?

O principal sintoma da artrose, e também o mais limitante, é sem dúvida a DOR. Essa dor geralmente aparece de forma gradual, mais leve, ocorrendo apenas ao realizar alguns esforços maiores como correr, saltar ou qualquer outra atividade de impacto.

Aqui é importante ressaltar que a artrose, depois de instalada, não necessariamente vai progredir indefinidamente até um estágio severo. Na verdade, em grande parte dos pacientes ela “estaciona” em um grau leve a moderado, não levando a grandes limitações para a vida do indivíduo.

No entanto, em alguns casos, devido a uma associação de fatores como a própria genética, além dos fatores causais já citados, a artrose pode progredir. Nesses casos, a dor irá se tornar mais intensa, e desencadeada por atividades cada vez menores, como andar grandes distâncias, subir ou descer escadas, chegando ao ponto de impedir até mesmo caminhadas curtas ou manter-se em pé.

Nesses pacientes, além da dor intensa, também costumam surgir outros sintomas da artrose, como deformidade progressiva do membro (pelo desgaste ósseo) e limitação dos movimentos.

Quais os exames para detectar a Artrose do Joelho?

O mais importante é o exame clínico bem realizado por um bom ortopedista. Mas existem exames de imagem que podem auxiliar no diagnóstico da artrose do joelho:

  • Radiografia (raio-x): é o principal exame para detecção da artrose, de realização simpes e baixo custo. Mas atenção: é importante que as radiografias sejam solicitadas pelo médico e realizadas pelo técnico de forma adequada, pois alguns detalhes são importantes. Por exemplo, é essencial que sejam realizadas com carga (paciente em pé).

Por isso, sempre procure um ortopedista para lhe avaliar, de preferência um especialista em joelho.

  • Ressonância magnética: exame mais específico e mais caro, nem sempre necessário na investigação da artrose. Mas é útil principalmente para detectar casos muito iniciais, geralmente em pacientes mais jovens. Nesses casos, em que ainda há lesão apenas na cartilagem, sem alterações ósseas, a ressonância tem a vantagem de visualizar também a cartilagem, o que não é possível na radiografia, que só visualiza o osso.

Também pode ser realizada quando se suspeita de outras causas de dor no joelho, como lesões ligamentares ou meniscais, tendinites, etc.

Radiografia
Radiografia de joelho com artrose

Quais os tratamentos iniciais para Artrose do Joelho?

A decisão quanto ao tratamento ideal vai depender de alguns fatores, como a idade do paciente e seu nível de atividade, doenças associadas, a localização e o estágio da artrose e, o mais importante: a dor do paciente.

O ideal é sempre iniciar o tratamento conservador (não-cirúrgico), pois grande dos pacientes, como vimos anteriormente, vai apresentar uma artrose de uma evolução não muito agressiva.

Mesmo nos pacientes com artrose severa e dor intensa, o tratamento conservador muitas vezes traz uma grande melhora do quadro e da qualidade de vida, evitando a necessidade da cirurgia.

Fazem parte do tratamento conservador:

  • Adaptação dos hábitos de vida: medidas como perda de peso, modificação de atividades que sobrecarregam o joelho e interrupção do tabagismo são comprovadamente eficazes na melhora dos sintomas da artrose.
  • Analgésicos e/ou anti-inflamatórios orais: servem para alívio dos sintomas, principalmente a dor e a inflamação;
  • Medicações condroprotetoras (protetoras da cartilagem) orais: são substâncias que existem naturalmente na cartilagem, como a glicosamina, a condroitina e o colágeno, e estão com sua produção diminuída na artrose. Quando ingeridos, têm o efeito teórico de substituir essa falta, além de estimular a produção pelo organismo. No entanto, ainda faltam estudos que comprovem sua eficácia.
  • Medicações injetáveis: podem ser indicadas quando há necessidade de alívio mais imediato, num quadro de dor mais intensa.
  • Fisioterapia: tem a vantagem de trazer alívio da dor e inflamação, mas sem os riscos de efeitos colaterais das medicações.
  • Atividades físicas: fortalecimento da musculatura do joelho, alongamentos e exercícios aeróbicos são essenciais. Trazem melhor sustentação, melhoram o arco de movimento e a capacidade de recuperação das estruturas inflamadas.
  • Infiltração no joelho: é a aplicação de alguma substância dentro da articulação do joelho. As mais utilizadas são:

Ácido hialurônico: é uma substância que faz parte da cartilagem normal. Tem papel importante na sua lubrificação, capacidade de absorção de choque e de regeneração. O ácido hialurônico sintético injetado vai contribuir diretamente para lubrificar a articulação, assim como vai estimular o organismo a produzir mais ácido hialurônico natural.

Corticoides: vão exercer efeito anti-inflamatório direto na articulação, com uma duração prolongada, podendo variar também de semanas a meses. Alguns dos mais utilizados são a triancinolona e a betametasona.

Mas atenção: todas essas medidas citadas, principalmente os medicamentos, podem ter efeitos colaterais. Por isso devem ser realizadas sempre com a indicação e supervisão do seu médico.

Nos pacientes em que o tratamento conservador, realizado por pelo menos 6 meses, não estiver trazendo alívio adequado da dor, e portanto têm sua qualidade de vida consideravelmente impactada, pode ser indicado o tratamento cirúrgico.

Fisioterapia

Quais as cirurgias para Artrose do Joelho?

São três as principais cirurgias utilizadas no tratamento da artrose do joelho:

  • Artroplastia (prótese) total do joelho: é a principal e a mais utilizada. Consiste na substituição das partes do fêmur (osso da coxa) e da tíbia (osso da perna) que se articulam. Pode também ser substituída a articulação da patela.

Por ser uma cirurgia que substitui toda a articulação danificada, é a que traz maior chance de alívio da dor. Mas, pelo mesmo motivo, é a mais invasiva das três, gerando algumas restrições ao paciente, principalmente a prática de alguns esportes.

  • Artroplastia unicompartimental do joelho: um pouco mais recente que a artroplastia total. É a substituição de apenas um compartimento (lado) do joelho, nos casos em que a doença está restrita àquele compartimento apenas. É menos invasiva que a artroplastia total. Possibilita uma recuperação mais rápida e um pouco menos de restrições.

No entanto, deve ser muito bem indicada, em casos muito precisos, pois se for feita em um joelho com artrose nos outros compatimentos, o risco de falha é grande.

  • Osteotomia: nessa cirurgia, é feito um corte na tíbia ou no fêmur, próximo à articulação, para realinhar o membro (corrigindo o varo ou valgo). Esse relinhamento tira um pouco da carga no compartimento que estiver doente. Pelo mesmo motivo que a prótese unicompartimental, está indicada apenas quando a artrose só acomete um compartimento do joelho.

A diferença é que osteotomia costuma ser indicada em indivíduos mais jovens que aqueles candidatos à prótese total ou unicompartimental, pois é uma cirurgia que preserva toda a articulação natural do joelho. Assim, é a que traz menos restrições na vida do paciente, possibilitando inclusive a prática de esportes.

Sua desvantagem é o pós-operatório mais delicado e demorado, pois envolve relizar uma “fratura” no paciente, que levará alguns meses para consolidar (colar).

Artroplastia
Joelho antes e após artroplastia total

Sinto dores no joelho e acho que pode ser artrose. O que fazer?

Tirou suas principais dúvidas sobre a artrose? Se você sofre de dores no joelho, marque uma consulta com um ortopedista, de preferência especialista em joelho, para primeiro diagnosticar se seu problema é artrose, e a partir daí indicar e orientar o tratamento ideal para você.

O Dr. Renato Caravellos é Especialista em Joelho, com ampla experiência nas diversas modalidades de tratamento da artrose, como o tratamento conservador, a viscossuplementação e a artroplastia.

 

Fontes:

Scott, W. Norman, David R. Diduch, Richard Iorio, and William J. Long. Insall & Scott Surgery of the Knee. 2018

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32722615/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27330013/

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